A esclerose múltipla (EM) é uma condição pouco conhecida do grande público, mas que afeta profundamente a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. No Brasil, estima-se que entre 35 e 40 mil pessoas convivam com a doença, segundo dados do Ministério da Saúde e da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem).
Trata-se de uma doença neurológica autoimune e crônica que afeta principalmente adultos jovens, entre 20 e 40 anos, com maior incidência entre mulheres. Os sintomas muitas vezes passam despercebidos ou são confundidos com outras condições, dificultando o diagnóstico precoce. Por ser uma doença com múltiplos sinais, formas de manifestação e sem cura definitiva, a conscientização é fundamental.
Neste texto, vamos falar sobre as causas e sintomas da esclerose múltipla, como é feito o diagnóstico, quais são os tratamentos disponíveis, e por que o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, celebrado em 30 de agosto, é tão importante para a sociedade.
O que é a esclerose múltipla?
A esclerose múltipla é uma doença inflamatória do sistema nervoso central que, por causas ainda não totalmente esclarecidas, leva o organismo a atacar a bainha de mielina, uma camada de gordura que envolve e protege as fibras nervosas.
Essa estrutura tem um papel essencial na transmissão dos impulsos nervosos. Quando danificada, surgem falhas na comunicação entre o cérebro, a medula espinhal e o resto do corpo, causando uma série de sintomas físicos e cognitivos.
Os surtos de esclerose múltipla, momentos de crise inflamatória, surgem de forma imprevisível e variam muito de uma pessoa para outra, tanto na frequência quanto na gravidade. Além disso, mesmo entre os períodos sem sintomas visíveis, pode haver degeneração silenciosa dos nervos.
A doença foi descrita pela primeira vez em 1868 pelo médico francês Jean-Martin Charcot, e, desde então, pesquisas tentam entender melhor suas causas e tratamentos. Segundo o Ministério da Saúde, ela é a condição neurológica mais comum entre jovens adultos.
Principais sintomas da esclerose múltipla
Os sintomas da esclerose múltipla são diversos e nem sempre se manifestam todos de uma vez. Em muitos casos, surgem aos poucos e podem ser similares aos de outros problemas de saúde. Entre os sinais mais frequentes estão:
- Fadiga intensa e frequente, que não melhora com o descanso;
- Alterações na visão, como visão dupla ou embaçada;
- Formigamento, queimação ou dormência em partes do corpo (parestesia);
- Fraqueza muscular e perda de equilíbrio;
- Dificuldade de fala e de engolir;
- Problemas urinários ou intestinais;
- Espasticidade, que é a rigidez muscular, principalmente nas pernas;
- Alterações cognitivas e emocionais, como perda de memória, depressão ou ansiedade.
O comprometimento da bainha de mielina afeta diretamente diversas funções do corpo, pois interrompe a transmissão dos impulsos elétricos entre os neurônios. Especialmente quando a medula espinhal é atingida, os sintomas podem envolver perda de sensibilidade, de força ou dificuldades de locomoção.
Causas e fatores de risco da esclerose múltipla
Apesar dos avanços da medicina, ainda não se sabe exatamente o que causa a esclerose múltipla. Há, no entanto, uma combinação de fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da doença. Um deles é o fator genético: pessoas com histórico familiar têm maior risco.
Fatores ambientais também são considerados. A baixa exposição ao sol, que leva à deficiência de vitamina D, é uma das hipóteses em estudo.
O tabagismo e a infecção pelo vírus Epstein-Barr, o mesmo que causa a mononucleose infecciosa, também têm sido associados à doença. Em entrevista à CNN Brasil, o neurologista Tarso Adoni, do Hospital Sírio-Libanês, alerta que esse vírus pode confundir o sistema imunológico, que acaba atacando a mielina por engano.
No entanto, não existe uma forma comprovada de prevenção. A melhor estratégia é conhecer os sinais e procurar avaliação médica assim que eles surgirem.
Como acontece o diagnóstico?
O diagnóstico da esclerose múltipla é clínico e exige uma investigação detalhada do histórico do paciente. É comum que o diagnóstico não seja conclusivo nas primeiras consultas, já que os sintomas podem remeter a outras doenças.
Os exames mais utilizados incluem a ressonância magnética do cérebro e da medula espinhal, que permite visualizar as lesões na bainha de mielina. Em alguns casos, é necessário fazer uma punção lombar, para analisar o líquor (o líquido que envolve o cérebro e a medula) e descartar outras condições.
Como explica a neurologista Carolina Alvarez, da Faculdade de Medicina da USP, o diagnóstico é feito por exclusão, ou seja, outras doenças precisam ser descartadas antes de se confirmar a esclerose múltipla.
Como a doença se manifesta
A esclerose múltipla pode se manifestar de diferentes formas, de acordo com sua evolução. Os principais tipos de manifestação da doença são:
- Remitente-recorrente (EM-RR): é o mais comum, presente em cerca de 85% dos casos. O paciente tem surtos seguidos de recuperação parcial ou total.
- Secundária progressiva (EM-SP): começa como EM-RR, mas depois evolui com piora contínua dos sintomas.
- Primária progressiva (EM-PP): afeta cerca de 10 a 15% dos pacientes e apresenta evolução lenta e contínua, sem surtos evidentes.
Entender essas diferenças é importante para definir o tratamento que mais se adequa a cada paciente.
Tratamento e qualidade de vida
Embora ainda não exista cura para a esclerose múltipla, os tratamentos disponíveis ajudam a controlar a doença, reduzindo a frequência dos surtos e retardando a progressão dos sintomas. As opções incluem medicamentos orais, injetáveis e infusionais, além de terapias de reabilitação.
Além disso, terapias complementares, como estimulação elétrica transcraniana e fisioterapia neurofuncional, têm mostrado bons resultados na reabilitação de pacientes.
O SUS oferece atendimento gratuito para o tratamento da esclerose múltipla. A rede pública oferece procedimentos clínicos e de reabilitação para a doença, além de medicamentos específicos.
A neurologista Carolina Alvarez afirma que é possível ter qualidade de vida mesmo com a doença. Isso depende da adesão ao tratamento e da prática regular de atividades físicas. “Com o acompanhamento de uma equipe especializada, o paciente pode manter uma vida ativa e com menos limitações”, detalha a especialista em entrevista para a Agência Brasil.
A importância do Dia Nacional de Conscientização
Criado pela Lei nº 11.303/2006, o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, celebrado em 30 de agosto, tem como objetivo chamar a atenção da sociedade para essa doença invisível, mas que pode ser altamente incapacitante.
A data também busca reforçar a importância do diagnóstico precoce, do tratamento adequado e do respeito às pessoas que vivem com a condição.
Quanto mais cedo a doença for identificada, maiores são as chances de controlar os surtos e preservar a qualidade de vida. Por isso, a informação é uma das principais aliadas no combate à desinformação, ao preconceito e ao atraso no diagnóstico.
Você ou alguém próximo já teve contato com a esclerose múltipla? Conte pra gente nos comentários o que você sabia (ou não) sobre a doença antes de ler este texto. Compartilhar experiências e dúvidas é um passo importante para ampliar a conscientização e auxiliar outras pessoas nessa jornada!
* Confira também aqui no blog o post Como prevenir demências? 14 mudanças simples no estilo de vida que diminuem o risco da doença.
** Com informações de Agência Brasil, CNN Brasil e Ministério da Saúde.