O fim de ano parece chegar cada vez mais rápido? Entenda como a sensação de tempo acelerado afeta a saúde mental

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Você também tem a impressão de que o ano simplesmente voou? Que ontem ainda era janeiro e, de repente, já estamos montando a árvore de Natal? Essa sensação de tempo acelerado tem se tornado cada vez mais comum. O fato é que a rotina corrida, o excesso de estímulos e a busca constante por produtividade têm mudado a forma como percebemos o tempo e como nos relacionamos com ele.

No fim do ano, essa percepção fica ainda mais evidente. As semanas parecem se encurtar, as demandas aumentam e as cobranças internas, tais como metas, promessas e balanços pessoais, se intensificam. É quando surge aquela mistura de cansaço e espanto: “como assim, o ano já está acabando?”.

Pensando nesse sentimento tão comum, preparamos esse conteúdo para falar sobre o que está por trás dessa sensação de tempo acelerado, como ela afeta a saúde mental e o que podemos fazer para tentar desacelerar e viver dias mais tranquilos!

Por que temos cada vez mais a sensação de tempo acelerado?

A ciência explica que a percepção do tempo é subjetiva. Ou seja, ela não depende apenas do relógio, mas da forma como o cérebro interpreta os acontecimentos. 

Segundo o físico Rafael Samhan Martins, em entrevista ao Jornal da USP, quando estamos muito concentrados em uma atividade prazerosa ou que exige nossa atenção total, o tempo “voa”. Já em momentos de tédio ou monotonia, cada minuto parece durar uma eternidade.

Em outras palavras: quando vivemos experiências intensas e diversas, o cérebro acumula mais memórias e sensações, o que dá a impressão de um tempo “cheio”. Mas quando caímos na rotina ou entramos no modo automático, os dias passam sem grandes registros mentais, e o tempo parece desaparecer.

Essa diferença é um dos motivos pelos quais a infância parece durar uma vida inteira, enquanto a vida adulta parece passar em um piscar de olhos. As crianças vivem cada experiência como algo novo, enquanto os adultos, acostumados à repetição, sentem os dias se misturarem.

O relógio biológico e o “relógio social”

Além da percepção individual, existe também o chamado Relógio Social, conceito criado pela psicóloga americana Bernice Neugarten. Esse fenômeno representa as expectativas culturais que associamos a determinadas idades: estudar, casar, ter filhos, alcançar o sucesso profissional, e assim por diante. Essas metas sociais criam uma espécie de cronograma invisível.

A professora Deusivania Falcão, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, explica que esse relógio influencia a forma como percebemos o tempo e avaliamos nossa própria vida. 

Quando sentimos que estamos “atrasados” em relação aos outros, por exemplo, ao ver pessoas da mesma idade alcançando objetivos que ainda não conquistamos, o tempo parece escapar mais rápido.

Por sua vez, o fim do ano, com sua enxurrada de comparações e balanços pessoais, costuma acionar esse relógio social com força total. É quando muita gente sente o peso de “não ter feito o suficiente”, o que aumenta a ansiedade e a sensação de que o tempo está correndo.

A ciência por trás da sensação de tempo acelerado

Pesquisas também indicam que o envelhecimento pode influenciar nossa percepção temporal. Um estudo do engenheiro mecânico Adrian Bejan, da Universidade Duke (EUA), aponta que, com o passar dos anos, nosso cérebro processa informações de forma mais lenta. Como resultado, temos a sensação de que o mundo ao redor se move mais rápido.

Mas essa não é a única explicação. Especialistas também associam a sensação de tempo acelerado ao estilo de vida moderno. O hábito de assistir vídeos na velocidade 2x, ouvir áudios acelerados e consumir conteúdo em fragmentos curtos pode estar treinando o cérebro a funcionar em um ritmo cada vez mais frenético.

A psicóloga Ana Aversi, em entrevista ao G1, destaca dois pontos centrais para essa sensação de tempo acelerado: o excesso de conexão e o culto à produtividade. 

Vivemos em uma era em que tudo parece acontecer em tempo real, e mesmo assim, nunca é o bastante. A par desse movimento, vídeos de “rotinas de sucesso”, metas diárias e coachs de produtividade reforçam a ideia de que o tempo precisa ser aproveitado ao máximo.

Quando a sensação de tempo acelerado demais se torna um alerta

A sensação de que o tempo voa pode ser um sinal de sobrecarga mental. Se os dias parecem curtos demais para tudo o que precisa ser feito, ou se a sensação de estar sempre “devendo tempo” é constante, é hora de acender o sinal de alerta.

Segundo a psicanalista Danit Pondé, o corpo tende a reagir quando a mente insiste em ignorar os limites. “As pessoas demoram para perceber porque se desconectam de si mesmas. É quando o corpo fala com insônia, cansaço, irritabilidade e doenças psicossomáticas”, explica a especialista.

Essa desconexão está no centro de muitos transtornos modernos, como ansiedade, burnout e depressão. O problema é que, em uma cultura que valoriza o fazer e o produzir, desacelerar pode parecer um luxo, quando, na verdade, é uma necessidade.

O impacto do fim de ano: aceleração e cobrança

Os últimos meses do ano intensificam a sensação de tempo acelerado. Festas, metas não cumpridas, balanços pessoais e a necessidade de “encerrar ciclos” colocam mais pressão sobre o cotidiano. É quando o cérebro entra em modo de alerta, tentando dar conta de tudo antes que o calendário vire.

Há também um componente emocional: o fim do ano é um marcador simbólico de passagem. Relembramos o que vivemos e o que ficou para trás. E nesse processo, é natural sentir que o tempo escapou. Essa mistura de nostalgia e ansiedade faz com que muitas pessoas se sintam exaustas ou frustradas.

Por isso, em vez de aumentar o ritmo, esse período pode ser uma boa oportunidade para pausar e reavaliar prioridades.

Como desacelerar e recuperar o controle do tempo

Se você sente que o ano passou voando, talvez seja hora de mudar a forma como se relaciona com o tempo. Veja algumas estratégias simples que podem ajudar:

  • Reaprenda a se entediar: o tédio é uma pausa necessária para o cérebro. Ele ajuda a reorganizar pensamentos e a estimular a criatividade. Experimente passar alguns minutos sem estímulos, sem música, sem notificações, sem redes sociais.
  • Reduza a velocidade digital: evite ouvir áudios ou assistir vídeos em velocidade acelerada. Permita-se vivenciar as coisas em tempo real, inclusive as pausas e os silêncios.
  • Defina metas realistas: especialmente no fim do ano, evite se sobrecarregar com resoluções impossíveis. Priorize o que realmente importa e lembre-se de que nem tudo precisa ser concluído agora.
  • Valorize o ócio e o descanso: passar tempo sem “fazer nada” também é uma forma de produtividade emocional. O descanso permite que o cérebro registre memórias e recupere energia.
  • Reconecte-se com o presente: atividades como caminhadas, leitura, jardinagem ou até cozinhar ajudam a ancorar a mente no agora. Quanto mais presença você traz ao cotidiano, mais devagar o tempo parece passar.

Que tal desenvolver um novo olhar para o tempo?

O tempo, como lembra o físico Rafael Samhan, não está realmente mais rápido. O que muda é a nossa relação com ele. A frase atribuída a Einstein resume bem essa ideia: “Um minuto sobre brasas parece uma eternidade, enquanto um minuto ao lado de quem amamos passa num instante.”

Talvez o segredo não seja lutar contra o tempo, mas aprender a vivê-lo com mais consciência. Em vez de tentar fazer tudo antes do fim do ano, que tal usar este período para celebrar o que já foi conquistado e se preparar, com calma, para o novo ciclo que vem aí?

Você também sente que o ano passou rápido demais? Como lida com essa sensação de tempo acelerado? Deixe seu comentário e compartilhe suas reflexões sobre o tema!


* Confira também aqui no blog o post Estresse de fim de ano: saiba por que acontece e como lidar com a situação.

** Com informações de Jornal da USP e portal G1.

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