Hoje em dia, é difícil imaginar um mundo sem tecnologia. Celulares, tablets e computadores estão por toda parte: nas casas, nas escolas, nas mochilas e, claro, nas mãos dos mais jovens. Com isso, o impacto da tecnologia nas crianças se tornou um tema central nas conversas entre pais, educadores e profissionais da saúde.
Se por um lado o acesso às telas abre portas para o conhecimento, criatividade e conexão com o mundo, por outro acende um sinal de alerta: estamos realmente preparados para lidar com os efeitos que o uso excessivo da tecnologia pode causar no desenvolvimento infantil?
Neste texto, vamos falar sobre o impacto da tecnologia nas crianças, os riscos do tempo de tela prolongado e como encontrar um ponto de equilíbrio para que a tecnologia seja uma aliada, e não um obstáculo, no crescimento saudável dos pequenos. Bora conferir?
O Brasil é um dos países mais conectados do mundo
Dados recentes mostram que o brasileiro passa, em média, 9 horas e 13 minutos por dia nas redes sociais. O país está atrás apenas dos usuários da África do Sul, que registraram 9 horas e 24 minutos.
Esse hábito se estende aos mais jovens: segundo a pesquisa TIC Kids Online, feita em 2022, 92% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos são usuários da internet, e o celular é o dispositivo mais usado por eles. Além disso, 86% desse público tem perfis em redes sociais, número que sobe para 96% entre os adolescentes de 15 a 17 anos.
Especialistas acreditam que a pandemia da Covid-19 impulsionou ainda mais essa tendência entre os mais jovens. Afinal, com escolas fechadas e a necessidade de manter o distanciamento social, as telas passaram a ser o principal meio de estudo, diversão e interação social. Ou seja, uma extensão da vida cotidiana e, muitas vezes, da infância.
Os benefícios do mundo digital para as crianças
Não há como negar que a tecnologia trouxe avanços importantes. A internet permite o acesso a conteúdos educativos, livros, vídeos, filmes, músicas, jogos e muito mais. Com alguns cliques, é possível aprender uma nova língua, conhecer a cultura de outros países, assistir a aulas de reforço ou conversar com um amigo que mora longe.
Para muitas crianças que pertencem a minorias ou vivem em situações de vulnerabilidade, as redes sociais e plataformas digitais também podem ser um espaço de acolhimento e representatividade. Além disso, tecnologias inclusivas vêm ampliando o acesso de estudantes com deficiência à educação de qualidade, com recursos personalizados e maior autonomia.
Na educação, por exemplo, o uso de tecnologias pode ajudar a preencher lacunas de aprendizagem, oferecer atividades mais interativas e motivar os alunos. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) aponta que, quando bem utilizadas, essas ferramentas digitais melhoram o engajamento, a acessibilidade e a qualidade do ensino.
Mas… e os riscos do impacto da tecnologia nas crianças?
Apesar dos muitos benefícios, o uso excessivo de telas e dispositivos eletrônicos levanta preocupações sérias. Diversos estudos indicam que a exposição prolongada a celulares, tablets e computadores pode afetar o desenvolvimento neurológico e emocional de crianças e adolescentes.
No mesmo sentido, uma revisão de artigos científicos apontou que o uso exagerado de telas está associado ao aumento de casos de ansiedade, depressão, distúrbios do sono, autolesão e até mesmo suicídio, especialmente entre meninas.
Outros problemas comuns incluem dificuldades de atenção, atrasos na linguagem, ganho de peso, sedentarismo, miopia e dificuldades de socialização.
Pesquisas internacionais também identificaram que o bem-estar mental é maior quanto mais tarde uma criança recebe seu primeiro celular ou tablet.
Por que as telas viciam tanto?
Parte do problema está na forma como os aplicativos e jogos são construídos. Plataformas como redes sociais e games online utilizam o chamado “design comportamental” — uma estratégia pensada para prender a atenção do usuário o máximo de tempo possível.
Esse mecanismo inclui, por exemplo, o autoplay de vídeos, notificações constantes, algoritmos que priorizam conteúdos apelativos. Ou seja, recursos que mantêm crianças e adolescentes rolando, clicando e reagindo por horas a fio.
Esse tipo de design não tem como objetivo principal o bem-estar das crianças, mas sim aumentar o tempo de engajamento nas plataformas, o que pode contribuir para quadros de vício digital e dificuldade de concentração.
Quanto tempo de tela é considerado saudável?
A Sociedade Brasileira de Pediatria tem recomendações claras para ajudar as famílias a lidar com o uso das telas:
- Crianças menores de 2 anos: não devem ser expostas a telas.
- De 2 a 5 anos: no máximo 1 hora por dia.
- De 6 a 10 anos: até 2 horas por dia.
- De 11 a 18 anos: idealmente, no máximo 3 horas por dia.
Esses limites incluem o uso de videogames, redes sociais e vídeos. A recomendação também é que crianças com menos de 10 anos não tenham televisão ou computador no quarto, nem celular próprio antes dos 12 anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vai na mesma linha. No entanto, uma análise recente revelou que menos de 25% das crianças menores de 2 anos e apenas 1/3 das entre 2 e 5 anos cumprem essas recomendações. Isso mostra que, além de regras, as famílias precisam de apoio e informação para colocar os limites em prática.
O papel da família e da escola no impacto da tecnologia nas crianças
Um dos maiores desafios hoje é que o mundo digital ainda não tem os mesmos limites do mundo físico. Enquanto no “mundo real” os pais evitam deixar seus filhos sozinhos em locais perigosos ou com pessoas desconhecidas, no ambiente virtual isso nem sempre acontece.
Assim, é comum que crianças passem horas conectadas sem supervisão, mesmo que os riscos online sejam tão grandes quanto (ou até maiores) que os riscos offline. Estamos falando de cyberbullying, aliciamento, assédio, acesso a conteúdos inadequados e manipulação emocional.
É fundamental que os responsáveis estejam atentos. Ou seja, que acompanhem o que as crianças estão acessando, conversem sobre o que consomem online e estejam abertos para acolher dúvidas e medos.
Na escola, o uso pedagógico da tecnologia precisa ser mediado pelos professores, evitando o uso excessivo e estimulando um olhar mais crítico para o conteúdo digital.
Mais do que proibir, é preciso educar
O mundo digital não é o vilão. Ele é uma ferramenta poderosa e, como toda ferramenta, precisa ser usada com consciência. O foco deve ser em educar para o uso saudável e equilibrado da tecnologia, e não apenas proibir ou restringir.
Ensinar as crianças a fazer pausas, dormir bem, praticar atividades físicas, manter vínculos presenciais e escolher conteúdos de qualidade são formas práticas de promover esse equilíbrio.
Também é importante lembrar que as famílias não estão sozinhas nessa missão. Políticas públicas, escolas, pediatras, psicólogos e a sociedade como um todo precisam assumir responsabilidade e atuar de forma conjunta, priorizando o bem-estar físico, emocional e social de crianças e adolescentes.
Como parte desse esforço coletivo para reduzir os riscos do impacto da tecnologia nas crianças, o Brasil está desenvolvendo um Guia para uso consciente de telas, baseado em evidências científicas e boas práticas. O objetivo é oferecer orientações claras e eficazes para pais, cuidadores, professores e profissionais da saúde, respeitando a realidade de cada família e região.
E você, o que pensa sobre o uso de telas na infância? Como tem lidado com o impacto da tecnologia nas crianças? Compartilhe sua opinião nos comentários!
* Com informações da SECOM – Secretaria de Políticas Digitais do Governo Federal.
** Confira também aqui no blog o post Insônia infantil: conheça as principais causas e o que fazer para estimular o sono das crianças.