Obesidade infantil: conheça os riscos dos ultraprocessados na alimentação das crianças

criança comendo salgadinhos ultraprocessados na alimentação

A inclusão de ultraprocessados na alimentação das crianças tem crescido de forma alarmante nos últimos anos. Biscoitos recheados, salgadinhos e outros produtos prontos para consumo se tornaram comuns nas refeições diárias, muitas vezes substituindo alimentos frescos e nutritivos. 

Acontece que, embora seja uma opção de fácil acesso em meio à correria do dia a dia, esse padrão alimentar coloca em risco a saúde das crianças, contribuindo significativamente para o aumento da obesidade infantil no Brasil. 

Em comparação com outros países, o número de crianças com excesso de peso no Brasil é quase três vezes maior do que a média mundial. Em 2022, 14,2% das crianças brasileiras estavam acima do peso, enquanto a média global foi de 5,6%. Os números refletem uma mudança nos hábitos alimentares, marcada pelo aumento no consumo de industrializados. 

Por isso, aproveitamos o Dia de Combate à Obesidade Infantil, celebrado em 3 de junho, para reunir informações sobre os riscos dos ultraprocessados na alimentação das crianças e como incentivar hábitos alimentares mais saudáveis desde a infância. Acompanhe conosco!

Afinal, o que são alimentos ultraprocessados?

Nem tudo o que parece saudável realmente é. Muitos produtos alimentícios vendidos como “naturais” ou “caseiros” escondem, nos rótulos, uma lista extensa de substâncias difíceis de reconhecer. 

São ingredientes que não costumamos usar em casa e que servem, principalmente, para prolongar o prazo de validade, modificar a textura ou intensificar sabores, e não para nutrir de fato. A diferença está no processo. 

Quando você faz um pão em casa, por exemplo, grande parte dos ingredientes são frescos e naturais. Já na indústria, um pão muitas vezes passa por várias etapas de transformação, com a adição de compostos criados em laboratório. O resultado final é algo bem diferente do original, embora visualmente parecido. 

É assim que surgem os chamados ultraprocessados: produtos altamente modificados, distantes do preparo tradicional, e com potencial impacto na saúde, especialmente quando consumidos com frequência.

O consumo de ultraprocessados por crianças no Brasil

Segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), realizado entre 2019 e 2020, 80% das crianças brasileiras menores de cinco anos consomem alimentos ultraprocessados com frequência. E mais: cerca de 25% das calorias consumidas por essas crianças vêm exclusivamente desses produtos,  número que chega a 30% entre dois e cinco anos.

Por outro lado, a pesquisa mostrou que muitos alimentos naturais, como frutas, raízes e hortaliças, estão ausentes na alimentação infantil. Além disso, metade das crianças não consome frutas regularmente, e a introdução de alimentos saudáveis é falha logo nos primeiros anos de vida.

Por que os ultraprocessados são tão populares entre as famílias?

Existem vários motivos que ajudam a explicar essa tendência na inclusão de ultraprocessados na alimentação das crianças. Conheça os principais deles:

  • Alta palatabilidade: os ultraprocessados são feitos para agradar ao paladar, provocando uma explosão de sabor que ativa o sistema de recompensa do cérebro. Isso aumenta o desejo por esses alimentos e pode criar um ciclo de consumo contínuo.
  • Praticidade: produtos prontos como bolos, biscoitos ou refeições instantâneas são opções mais rápidas do que preparar alimentos do zero, o que atrai pais e mães com rotinas corridas.
  • Custo: em muitas regiões do país, especialmente nas áreas mais vulneráveis, os ultraprocessados são mais baratos do que alimentos in natura, como carnes, frutas e vegetais.

Publicidade intensa: as empresas alimentícias investem pesado em propagandas que associam esses produtos à felicidade, praticidade e saúde, mesmo quando não entregam nutrição de qualidade.

Quais os riscos dos ultraprocessados para a saúde das crianças?

O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados na infância está associado a diversos problemas de saúde, tanto imediatos quanto de longo prazo.

1) Deficiências nutricionais

Ultraprocessados são, em geral, pobres em nutrientes essenciais. A criança pode até se sentir saciada, mas estará desnutrida. O já mencionado levantamento do Enani identificou que 14,2% das crianças de até cinco anos têm deficiência de alguma vitamina ou mineral, principalmente vitamina B12, ferro e vitamina A.

Esses nutrientes são fundamentais para o crescimento, o desenvolvimento neurológico, o sistema imunológico e a visão. A carência deles pode gerar problemas como déficits cognitivos e de aprendizado, baixa imunidade e alterações no crescimento e no sono.

2) Doenças crônicas

Uma revisão com mais de 30 estudos apontou a relação entre o consumo de ultraprocessados e doenças como obesidade infantil, diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e transtornos mentais.

3) Alterações na microbiota intestinal

A dieta rica em ultraprocessados desequilibra as bactérias que vivem no intestino, favorecendo as “bactérias ruins”. Esse desequilíbrio (disbiose) está ligado a um maior risco de infecções, redução da imunidade e maior propensão a doenças inflamatórias e crônicas.

4) Desmame precoce e cáries

A introdução precoce de alimentos ultraprocessados muitas vezes substitui o aleitamento materno exclusivo, recomendado até os seis meses. Atualmente, apenas 45,8% dos bebês brasileiros mantêm o aleitamento exclusivo até essa idade, longe da meta de 70% estipulada pela OMS.

Além de aumentar o risco de obesidade, o desmame precoce pode favorecer o surgimento de cáries, o comprometimento da imunidade e a piora da nutrição geral.

5) Propensão à obesidade na vida adulta

O consumo frequente de ultraprocessados durante a infância pode criar padrões alimentares que acompanham a pessoa ao longo da vida. Isso porque o excesso de sal, açúcar e gordura presente nesses produtos condiciona o paladar e reforça o desejo por alimentos com essas características, dificultando escolhas mais saudáveis no futuro.

Práticas de combate e prevenção à obesidade infantil

Diante dos riscos associados à inclusão de ultraprocessados na alimentação das crianças, e ao aumento da obesidade infantil, é essencial um esforço coletivo para promover hábitos saudáveis desde cedo. Isso envolve a colaboração de famílias, escolas, profissionais de saúde e o poder público.

Ações importantes incluem educação nutricional nas escolas, orientação profissional nas consultas pediátricas, leis para restringir o marketing de ultraprocessados para crianças e incentivo ao acesso a alimentos naturais, como os da agricultura familiar.

Mudanças práticas no ambiente familiar também desempenham papel crucial. Algumas atitudes diárias podem ajudar a prevenir e combater a obesidade infantil, tais como:

    • Incentivar atividades físicas divertidas, como dançar ou brincar ao ar livre.
    • Estabelecer horários regulares para as refeições.
    • Evitar que a criança coma enquanto assiste TV ou joga videogame.
    • Reduzir ou eliminar alimentos ultraprocessados em casa.
    • Ser um exemplo com hábitos saudáveis de alimentação e exercícios.
    • Evitar o uso excessivo de adoçantes.
    • Incluir a criança nas escolhas alimentares para evitar frustrações.
    • Cuidar dos hábitos alimentares desde cedo, principalmente em famílias com tendência à obesidade.
    • Observar sinais de estresse e ansiedade, buscando apoio psicológico, se necessário.
    • Consultar sempre um médico para orientação no tratamento e prevenção.

Essas ações, quando combinadas, formam a base de um ambiente mais favorável ao crescimento saudável e ao desenvolvimento integral das crianças.

Quais mudanças você já adotou para melhorar a alimentação das crianças? Como você lida com a inclusão dos ultraprocessados? Compartilhe suas experiências e dicas nos comentários e ajude a espalhar hábitos saudáveis!


* Com informações da CNN Brasil, portal Drauzio Varella e Jornal da USP

** Confira também aqui no blog o post Cárie na infância: conheça os cuidados essenciais para proteger a saúde bucal das crianças.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *