Setembro Amarelo: o que é escuta ativa e como essa prática pode ajudar a salvar vidas

Falar sobre saúde mental nem sempre foi fácil. Durante anos, o suicídio foi um tema evitado, cercado de tabus e receios. No entanto, esse silêncio pode custar vidas. Por isso, o movimento Setembro Amarelo nasceu, em 2015, com a proposta de abrir espaço para conversas mais acessíveis e humanas sobre o assunto, promovendo também o fortalecimento de práticas como a escuta ativa.

A campanha cresceu e ganhou força, contribuindo para que mais pessoas entendessem que pedir ajuda não é fraqueza, é coragem. Ao mesmo tempo, também revelou um novo desafio: como abordar alguém em sofrimento com cuidado, responsabilidade e empatia?

Neste conteúdo, vamos falar sobre o papel da escuta ativa na prevenção do suicídio. Você vai entender como essa habilidade simples, mas poderosa, pode fazer toda a diferença na vida de quem precisa de apoio, e como colocá-la em prática no seu dia a dia.

O que é escuta ativa?

Escutar alguém verdadeiramente é mais do que estar presente fisicamente ou dizer “estou ouvindo”. A escuta ativa é uma técnica de comunicação baseada em atenção, empatia e presença. Consiste em ouvir o outro com interesse genuíno, sem interromper, julgar ou trazer suas próprias experiências para o centro da conversa.

Essa abordagem é adotada, por exemplo, pelos voluntários do CVV (Centro de Valorização da Vida), que atendem pessoas em sofrimento emocional. Em entrevista à CNN Brasil, Carlos Correia, voluntário da organização, revela que o essencial é “ouvir o outro sem interferência”, o que significa não colocar suas vivências, opiniões ou julgamentos na conversa.

Por que escutar é tão importante?

De acordo com um estudo da Unicamp, cerca de 17% dos brasileiros já pensaram seriamente em tirar a própria vida, e 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso. Esses números mostram que a ideação suicida é mais comum do que se imagina e que, em muitos casos, o apoio emocional pode fazer diferença.

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 42 pessoas tiram a própria vida todos os dias no Brasil. Ao mesmo tempo, sabe-se que o acesso à informação, ao acolhimento e ao cuidado psicológico pode reduzir significativamente os riscos, tornando campanhas como o Setembro Amarelo ainda mais essenciais.

Conversar com alguém de confiança pode ser o primeiro passo para romper o isolamento. Frederico Navas Demetrio, psiquiatra do Hospital das Clínicas da USP, explica que os pedidos de ajuda muitas vezes aparecem de forma indireta, ou seja, por meio de sinais sutis, mudanças de comportamento ou comentários desanimados.

Nesse sentido, ter alguém por perto disposto a ouvir com calma, sem interromper ou julgar, pode oferecer à pessoa em sofrimento a confiança necessária para se abrir e, a partir disso, buscar o apoio profissional de que precisa. 

Mesmo que nem sempre seja possível evitar um desfecho mais grave, uma escuta atenta pode representar um ponto de virada na vida de alguém.

O que fazer se alguém próximo estiver em sofrimento?

Nem sempre é fácil perceber quando alguém está passando por uma crise emocional. Mas alguns sinais podem servir de alerta:

  • Frases como “queria desaparecer” ou “preferia estar morto”;
  • Isolamento social e falta de interesse por coisas que antes gostava;
  • Alterações no sono, apetite ou aparência;
  • Baixo rendimento na escola ou no trabalho;
  • Sentimentos de desesperança ou falta de perspectiva.

Ao notar qualquer um desses comportamentos, vale a pena se aproximar e perguntar, com delicadeza, se a pessoa está bem. Uma pergunta simples como “tem algo que eu possa fazer para te ajudar?” pode abrir espaço para o diálogo.

Como praticar a escuta ativa?

A escuta ativa é uma habilidade que pode, e deve, ser desenvolvida. Confira algumas dicas baseadas em orientações de especialistas em saúde mental, reunidas pela Revista Exame:

Elimine distrações
Guarde o celular, desligue notificações e concentre-se totalmente na conversa. Isso demonstra respeito e interesse.

Mostre que está ouvindo
Use sinais verbais e não verbais, como expressões faciais, acenos de cabeça e interjeições suaves como “sim” e “entendo”.

Evite interromper
Deixe a pessoa concluir o que está dizendo antes de responder. Interrupções quebram o fluxo da fala e podem ser vistas como desinteresse.

Faça perguntas pertinentes
Perguntas abertas ajudam a pessoa a se expressar melhor. Algo como “você quer me contar mais sobre isso?” pode ajudar.

Parafraseie
Repetir com suas próprias palavras o que foi dito ajuda a evitar mal-entendidos e mostra que você realmente entendeu.

Controle reações emocionais
Mesmo que o que a pessoa diga seja difícil de ouvir, mantenha a calma. Evite julgamentos ou conselhos imediatos.

Demonstre empatia
Coloque-se no lugar do outro. Diga algo como “imagino que isso esteja sendo muito difícil para você” em vez de “isso já vai passar”.

O que não fazer durante uma escuta

Assim como existem boas práticas, também há atitudes que devem ser evitadas. Segundo o CVV e especialistas consultados pela CNN Brasil, algumas frases ou comportamentos podem ter efeito oposto ao desejado:

  • Evite minimizar o sofrimento: frases como “isso não é nada” ou “já passei por coisa pior” invalidam o sentimento da outra pessoa.
  • Não ignore os sinais: se alguém der indícios de que está mal, não desvie o assunto ou finja que não ouviu.
  • Não julgue nem diga que é drama: comentários como “isso é só para chamar atenção” são extremamente prejudiciais.
  • Não ofereça soluções imediatas: o objetivo não é resolver o problema, mas mostrar que a pessoa não está sozinha.

amiga dando suporte e exercitando a escuta ativa em relação a outra amiga

A ajuda profissional é essencial

Apesar de a escuta ativa ser um suporte importante, ela não substitui o atendimento profissional. Psicólogos, psiquiatras e terapeutas estão preparados para tratar casos de sofrimento emocional profundo.

Além disso, se você ou alguém próximo precisa conversar, o CVV está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, pelo telefone 188. O atendimento é gratuito e sigiloso. Também é possível acessar o site cvv.org.br para falar por chat ou e-mail.

Escuta ativa e Setembro Amarelo: ouvir pode salvar vidas

O Setembro Amarelo nos convida a falar mais sobre saúde mental, mas, principalmente, a ouvir mais com atenção e empatia. A escuta ativa é uma ferramenta simples, gratuita e acessível que pode ajudar, e muito, quem está enfrentando um momento difícil.

Não precisamos ser especialistas para oferecer apoio. Às vezes, tudo o que alguém precisa é de um ouvido disposto e um coração aberto.

Você tem alguma dica sobre a prática da escuta ativa para compartilhar? Ou gostaria de contar alguma experiência em relação ao tema? Conta pra gente nos comentários!


* Confira também aqui no blog o post Setembro Amarelo: sinais do comportamento suicida e como ajudar.

** Com informações de CNN Brasil, CVV – Centro de Valorização da Vida e Revista Exame.

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