Hoje em dia, é quase impossível imaginar a vida sem um celular por perto, não é mesmo? Usamos o aparelho para conversar, estudar, trabalhar, pedir comida, ver séries, pagar contas… ele virou parte da nossa rotina. Mas quando o uso do celular passa dos limites e começa a causar angústia, pode ser sinal de um problema chamado nomofobia.
O termo vem do inglês “no mobile phobia”, que significa exatamente isso: medo de não ter o celular por perto. Esse comportamento foi identificado pela primeira vez em 2008, no Reino Unido, e tem se tornado cada vez mais comum, principalmente entre adolescentes e jovens adultos.
Neste texto, vamos explicar melhor o que é a nomofobia, quais são os principais sinais de alerta e como lidar com esse transtorno que está cada vez mais presente no mundo moderno.
O que caracteriza a nomofobia?
A nomofobia acontece quando a pessoa sente um desconforto exagerado ao imaginar que pode ficar desconectada. Isso pode acontecer se o celular quebra, acaba a bateria, ou se não há sinal de internet.
Segundo especialistas, essa ansiedade é provocada pelo costume de estar sempre online. Com o tempo, o celular vira uma espécie de “extensão do corpo”, e a ideia de se desconectar assusta.
De acordo com a psiquiatra Sonia Palma, em entrevista à Agência Brasil, apesar da tecnologia ter facilitado muito a comunicação, ela também trouxe um novo desafio que é aprender a lidar com a dependência.
Quais os principais sintomas da nomofobia?
Pessoas com nomofobia se sentem perdidas ou até em pânico quando estão longe do celular, e isso pode causar sintomas emocionais (como ansiedade) e físicos (como falta de ar ou suor excessivo). Entre os sinais mais comuns, estão:
- Dormir com o celular ao lado;
- Checar o celular constantemente, mesmo sem notificações;
- Ficar incomodado em lugares sem Wi-Fi ou sinal;
- Deixar de sair com amigos ou família para ficar no celular;
- Ter apenas amizades virtuais e se afastar de relações presenciais.
Quais são as causas da dependência excessiva do celular?
Em entrevista ao portal Drauzio Varella, a psiquiatra Julia Khoury, da UFMG, explica que o problema tem várias causas. Uma delas é que os celulares são projetados para prender nossa atenção.
Cada curtida, mensagem ou notificação ativa uma área do cérebro ligada ao prazer, liberando dopamina – o mesmo hormônio que aparece em situações de recompensa. Isso faz com que o cérebro “peça mais” o tempo todo, criando um ciclo viciante.
Com isso, atividades que antes traziam satisfação, como sair com os amigos ou praticar um hobby, passam a parecer menos interessantes do que ficar no celular.
Além disso, vivemos numa cultura onde é quase obrigatório estar sempre disponível. Muita gente sente que vai perder algo importante se não estiver online o tempo todo, o que reforça ainda mais essa ansiedade.
Outro ponto de atenção é que o uso excessivo do celular está muitas vezes ligado a outros problemas psicológicos, como ansiedade, depressão, TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e transtorno bipolar. Essas condições aumentam o risco de desenvolver nomofobia, sem falar que o uso excessivo do celular também pode piorar esses quadros.
Como identificar a nomofobia?
Não existe um exame específico para detectar a nomofobia. O diagnóstico é feito por um psiquiatra, psicólogo ou psicoterapeuta, que analisa o comportamento da pessoa, seus sentimentos e se há prejuízo no dia a dia.
Existem também testes e questionários que ajudam a avaliar o nível de dependência do smartphone. Nesse sentido, é importante observar se o uso do celular está atrapalhando áreas importantes da vida, como:
- Estudos ou trabalho;
- Relações familiares ou amizades;
- Sono e saúde física;
- Participação em atividades fora do mundo virtual.
Por fim, se a pessoa se sente mal ou irritada quando está sem o celular, e mesmo assim não consegue controlar o uso, é hora de buscar ajuda profissional.
Crianças, adolescentes e adultos: quem sofre mais com a nomofobia?
A nomofobia pode afetar qualquer pessoa, mas os efeitos costumam ser mais graves nas crianças e nos adolescentes, já que o cérebro ainda está em formação.
O uso excessivo do celular nessa fase pode atrapalhar o desenvolvimento de habilidades sociais importantes, como a empatia (a capacidade de se colocar no lugar do outro). Isso pode prejudicar os relacionamentos ao longo da vida. Ademais, o uso em excesso de telas por crianças pode:
- Aumentar a irritabilidade;
- Causar problemas de sono, por conta da luz azul do aparelho;
- Estimular comportamentos impulsivos;
- Reduzir o interesse em brincadeiras ou interações presenciais.
Entre os adultos, os impactos são parecidos, mas costumam aparecer de outra forma: queda na produtividade no trabalho, dificuldade de concentração, problemas nos relacionamentos, e até dores no corpo por causa da postura ruim ao usar o celular por muitas horas seguidas.
Como tratar o medo de ficar sem celular?
A nomofobia tem tratamento, e quanto antes ele começa, melhores são os resultados.
O primeiro passo é procurar um profissional de saúde mental. O acompanhamento pode ser feito com psicólogo ou psiquiatra, e o tratamento geralmente envolve terapia cognitivo-comportamental – uma abordagem que ajuda a identificar os pensamentos e hábitos que levam à dependência.
Quando há outros transtornos envolvidos, como depressão ou ansiedade, pode ser necessário o uso de medicamentos. Mas cada caso deve ter sua avaliação individual.
Além da terapia, algumas estratégias práticas ajudam a controlar o uso do celular:
- Definir horários específicos para checar o aparelho;
- Usar aplicativos que limitam o tempo de tela;
- Desativar notificações de redes sociais e mensagens;
- Deixar o celular em preto e branco para diminuir o apelo visual;
- Criar espaços sem tecnologia, como a mesa de jantar ou o quarto.
- Buscar atividades fora do ambiente digital, como esportes ou leitura.
No caso das crianças, o envolvimento dos pais é essencial. Eles devem dar o exemplo e também impor limites, como horários para usar o celular e momentos em família sem telas. Ou seja, o equilíbrio começa pelo comportamento dos adultos em casa.
Reflexão: precisamos mesmo estar sempre conectados?
Já pensou como seria seu dia sem o celular? Para muitos, essa ideia pode parecer relaxante. Para outros, desesperadora. A verdade é que estamos tão acostumados com a conexão constante que, muitas vezes, nem percebemos o quanto isso nos afasta do presente – das pessoas, dos ambientes e até de nós mesmos.
A nomofobia ainda não é oficialmente classificada como um transtorno no manual de doenças mentais, mas seus efeitos já são bastante estudados e reconhecidos.
A boa notícia é que existem caminhos para mudar esse padrão. Afinal, com apoio, informação e pequenas mudanças no dia a dia, é possível reconquistar o equilíbrio entre a vida online e a vida real.
No final das contas, o celular é uma ferramenta – poderosa, sim, mas que deve estar a nosso serviço, e não o contrário. Portanto, quando o medo de ficar sem ele toma conta, é hora de parar, respirar e buscar ajuda.
E a sua relação com o aparelho, como está? Você tem medo de ficar sem o celular ou manifesta algum outro sintoma? Compartilhe sua experiência conosco nos comentários!
* Confira também aqui no blog o post Você passa tempo demais nas telas? Veja dicas de como diminuir o uso do celular!
** Com informações de Agência Brasil, portal Drauzio Varella e Forbes.