Você já deve ter passado por isso: ficou um tempo parado e, ao retomar a academia, teve alguma dificuldade nos primeiros dias. Mas, logo depois, percebeu que seu corpo respondeu mais rápido do que esperava. Esse fenômeno tem nome: memória muscular.
Isso acontece porque o organismo, com o tempo, aprende e se adapta aos estímulos físicos. Assim, quando esses estímulos voltam a acontecer, ele retoma padrões já conhecidos com mais facilidade.
Neste texto, vamos explicar o que é a memória muscular, como ela funciona, quais fatores influenciam seu tempo de duração e por que ela é tão importante no processo de retomada dos exercícios físicos. Acompanhe conosco!
Afinal, o que é memória muscular?
A memória muscular é a capacidade do corpo de “lembrar” adaptações anteriores causadas pela prática regular de exercícios. Quando você treina com frequência, suas fibras musculares sofrem alterações que melhoram força, resistência e coordenação.
Se você interrompe os treinos, essas adaptações podem diminuir, mas não somem por completo. Ao retomar a prática, o corpo volta a se adaptar com mais facilidade, justamente por já ter passado por esse processo antes.
Como o corpo “lembra” dos treinos?
Quando falamos em memória muscular, estamos tratando de mudanças que ocorrem nas fibras musculares durante os treinos, explica a fisioterapeuta Andrea Peterson Zomignani, doutora em Neurociências e Comportamento pela USP, em entrevista ao Jornal da USP.
Dessa forma, se a pessoa para de se exercitar, os músculos tendem a voltar ao estado anterior. Porém, ao retornar à atividade física, essas fibras respondem mais rapidamente, como se guardassem um “registro” daquilo que já viveram.
O que dizem os estudos sobre memória muscular?
Pesquisas nas últimas décadas confirmam que o músculo realmente “guarda” informações do passado. Em alguns desses estudos, cientistas observaram que, durante o treino, as fibras musculares ganham novos núcleos, que são estruturas essenciais para o crescimento muscular. Quando o treino é interrompido, o volume do músculo pode diminuir, mas esses núcleos permanecem ali.
Isso significa que, ao voltar a treinar, o músculo já possui uma estrutura pronta para responder mais rapidamente aos estímulos, acelerando os ganhos. É como se ele tivesse passado por um treinamento intensivo e estivesse apenas esperando o sinal verde para retomar.
Outro campo de estudo investiga como os genes das células musculares se comportam. Durante o exercício, certos genes são ativados para produzir proteínas que ajudam no fortalecimento muscular. Há indícios de que essas ativações deixam “marcas” duradouras que facilitam futuras respostas ao exercício físico.
Por quanto tempo os músculos “lembram” dos treinos?
Não há uma resposta única para essa pergunta, tudo vai depender da rotina de exercícios de cada pessoa e do tempo que ela passou sem se exercitar. É verdade que ainda faltam pesquisas que acompanhem os efeitos da memória muscular por longos períodos, principalmente porque esse tipo de estudo costuma exigir bastante tempo e recursos.
Apesar disso, já se sabe que quanto mais regular for a prática de exercícios, seja ao longo da semana ou ao longo dos anos, e quanto menor for o intervalo de inatividade, maior será a facilidade do corpo em retomar o ritmo.
Como vimos, a adaptação acontece mais rápido porque o organismo tende a reativar com mais agilidade os padrões que já foram estabelecidos.
Memória motora e memória muscular: tem diferença?
A memória muscular, no sentido mais fisiológico, refere-se à capacidade dos músculos de recuperar força e volume com mais facilidade após um período de pausa. Ou seja, um corpo que já foi treinado responde melhor e mais rápido a um novo ciclo de exercícios do que um corpo que nunca passou por isso.
Acontece que muitas vezes usamos o termo “memória muscular” para falar da habilidade de executar bem certos movimentos, como andar de bicicleta ou nadar. No entanto, esse tipo de lembrança se chama, na verdade, memória motora. Ela está relacionada ao aprendizado de habilidades e à capacidade de realizá-las automaticamente após muita prática.
Esse processo de automatização dos movimentos serve também para poupar energia mental. A atenção consciente exige muito do cérebro, então ele busca maneiras de “delegar” ações rotineiras, como caminhar ou dirigir, para que possamos focar em outras coisas mais importantes.
Sabe quando você dirige ou vai caminhando para o trabalho, e às vezes nem lembra como chegou lá? Isso acontece porque o cérebro ativou circuitos automáticos, permitindo que você se concentrasse em outras questões, como a reunião do dia ou a lista de tarefas.
Qual a influência da memória muscular e da memória motora nos exercícios aeróbicos?
Tanto a memória muscular quanto a memória motora atuam em atividades como corrida, ciclismo e natação. Ao praticar essas modalidades por um bom tempo, o corpo desenvolve adaptações que facilitam o retorno, mesmo após uma pausa.
Um exemplo prático: digamos que você corria regularmente e parou por alguns meses. Ao recomeçar, seu corpo vai se lembrar da respiração, do ritmo, da movimentação das pernas. Pode ser difícil nas primeiras semanas, mas logo você recupera o fôlego e a resistência.
Cuidados ao voltar aos treinos
Apesar da vantagem da memória muscular, é importante retomar os exercícios com responsabilidade. Pessoas que ficaram muito tempo paradas devem passar por uma avaliação médica, especialmente para verificar a saúde cardiovascular e evitar lesões.
Se você está recomeçando alguma atividade, o ideal é ir aos poucos, com treinos leves e progressivos. Uma sugestão é iniciar com 15 a 20 minutos de atividade moderada, três vezes por semana, e aumentar o tempo a cada semana.
Em resumo, o retorno precisa ser gradual, respeitando os limites do corpo. O apoio de profissionais de educação física e de saúde é essencial para garantir segurança e eficiência na retomada dos treinos.
Agora conta pra gente: você já sentiu que seu corpo “lembrou” como treinar mais rápido do que imaginava? Como foi a sua experiência ao voltar aos treinos depois de uma pausa? Compartilhe sua experiência nos comentários!
* Confira também aqui no blog o post Pesquisa revela que praticar exercícios ao ar livre traz mais benefícios!
** Com informações do portal Drauzio Varella, Globo Esporte e Jornal da USP.